Fizemos uma análise dos últimos 10 anos dos indicadores de perda de água e da quantidade de litros consumida por cada habitante durante o dia
Escrito por Alan Lima Reis
Ilustrações adaptadas por Ana Magalhães
Apresentação
Anualmente, o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) divulga o diagnóstico brasileiro de água e esgotos. De tal forma, o índice de perdas na distribuição (IN049) é um indicador volumétrico da água perdida em relação à quantidade que foi produzida/tratada. Já o consumo médio per capita de água (IN022), é a média diária por habitante dos volumes utilizados para atender os consumidores domésticos, comerciais, públicos e industriais. Resumidamente, um sistema de abastecimento de água é composto pelas estruturas de captação, elevação, adução, tratamento, reservação e distribuição. Logo, a perda de água pode acontecer em qualquer uma destas etapas. Veja a Figura 1.
As perdas de água em um sistema de distribuição acontecem todos os dias e dependem do consumo exercido pela população, quanto maior a demanda, mais água precisa ser tratada e ofertada na rede. A Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda 3,3 mil litros de água por mês, aproximadamente 110 litros de água que cada pessoa deve consumir diariamente para satisfazer as suas necessidades básicas. Segundo Manzi (2017), as perdas de água podem acontecer de duas formas:
- Perdas aparentes: quando ocorre a falha no volume de água micromedido e faturado devido à irregularidades, por exemplo: erros de medição ou leitura, hidrômetros descalibrados, fraudes e ligações clandestinas (famosos “gatos”). Neste tipo de perda, a água é realmente consumida, mas deixa de ser faturada pelas concessionárias;
- Perdas reais ou físicas: conforme ilustra a Figura 2, este tipo de perda acontece pelo vazamento nas tubulações e redes de distribuição, podendo ser inerentes, invisíveis e aparentes. Veja as seguintes definições:
- Vazamentos inerentes: ocorrem em juntas ou conexões e são difíceis de serem localizados (MANZI, 2017);
- Vazamentos invisíveis ou subterrâneos: de pequena magnitude e carecem de equipamentos especiais para detecção e localização (MORAIS e ALMEIDA, 2006). Vazamentos não visíveis, por vezes de mesma intensidade, mas não afloram à superfície (MANZI, 2017);
- Vazamentos visíveis: que afloram na superfície e alcançam grande magnitude (MORAIS e ALMEIDA, 2006). Vazamentos visíveis ou reportados que surgem à superfície dependendo da magnitude do vazamento, condições de solo e cobertura da tubulação (MANZI, 2017).
Índice de perdas na distribuição
A região Norte possui o maior índice de perdas, no ano de 2019, por exemplo, a cada 100 litros de água que foi produzido e tratado, 55,2 litros foram perdidos. Nesta região, o menor valor aconteceu em 2015, ou seja, 46,3 litros. O Nordeste assumiu a segunda posição, em 2019 foram extraviados 45,7 litros. A região Centro-Oeste possui o menor indicador de perdas, contabilizando 34,4 litros.
No comparativo com todo o período, observa-se que desde 2010 não houve redução significativa dos indicadores, em algumas regiões os valores até aumentaram, impactando a média brasileira. No ano de 2010, esta média estava em 38,8 litros perdidos a cada 100 litros produzidos, em 2019, este número foi para 39,2 litros, conforme ilustra a Tabela 1. Para efeito de benchmarking, o índice de perdas de água em países desenvolvidos varia de 8 a 24% e nações em desenvolvimento de 25 a 45% (MALCOLM, 2001).
Consumo médio per capita
Em 2019, cada habitante consumiu 153,9 litros de água por dia. O ano de 2012 registrou a maior média de consumo, foram 167,5 litros. Valores impulsionados pela região Norte, Nordeste e Sudeste. Como já previsto, a região Sudeste registrou o maior consumo médio per capita. Mesmo com a crise hídrica que aconteceu em 2015, os 176 litros consumidos ultrapassaram os maiores indicadores registrados em todas as regiões, veja a Tabela 2.
O Estado do Rio de Janeiro é o que mais consome água, dados que são influenciados pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro (CEDAE/RJ). Nos anos de 2017, 2018 e 2019 a população do Estado do Rio de Janeiro consumiu 249,7; 254,9; e 207,0 litros respectivamente.
Considerando os dados de consumo médio per capita de 2019, para abastecer uma pessoa a cada dia foram desperdiçados 60,33 litros de água. Para efeito de comparação, somando-se o consumo diário de 153,9 com este total de perda, cada habitante foi responsável por utilizar 214,23 litros por dia, conforme demonstra a Tabela 3.
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Referências
GIZ – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit. (2011). Guidelines for water loss reduction: a focus on pressure management. Eschborn, Germany.
MALCOLM, F. World Health Organization (2001). Water, Sanitation and Health Team & Water Supply and Sanitation Collaborative Council. Leakage management and control : a best practice training manual. Disponível em: <https://apps.who.int/iris/handle/10665/66893>, acessado em 09 de fevereiro de 2021.
MANZI, D. (2017). Detecção e localização de rompimentos em redes de distribuição de água a partir de análise dos sinais de pressão em regime transitório. Faculdade de Engenharia Civil, Arquitetura e Urbanismo. Tese Doutorado – Universidade Estadual de Campinas.
MISIUNAS, D. (2005). Failure Monitoring and Asset Condition Assessment in Water Supply Systems. Department of Industrial Electrical Engineering and Automation, Doctoral Dissertation in Industrial Automation, Lund University.
MORAIS, D. C; ALMEIDA, A. T. (2006). Modelo de Decisão em Grupo para Gerenciar Perdas de Água. Pesquisa Operacional, v. 26, n. 3, p. 567-584.
SARZEDAS, G. L. (2009). Planejamento para a substituição de tubulações em sistemas de abastecimento de água. Aplicação na rede de distribuição de água da Região Metropolitana de São Paulo. Departamento de Engenharia Hidráulica e Sanitária. Dissertação Mestrado – Universidade de São Paulo.
SNIS – Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. Diagnóstico anual de água e esgoto. Disponível em: <http://www.snis.gov.br/diagnosticos/agua-e-esgotos>, acessado em 08 de fevereiro de 2021.