Entenda a dinâmica da matriz elétrica e da quantidade de emissão de dióxido de carbono nos últimos cinco anos.
Escrito por Alan Lima Reis
Ilustrações feitas por Ana Magalhães
O Brasil é um país privilegiado e rico em biodiversidade, sendo contemplado por seis biomas e uma infinidade de recursos naturais que promovem a sobrevivência e o conforto da sociedade em geral. Esta infraestrutura ambiental suporta a produção de energia elétrica para movimentar mais de 210 milhões de brasileiros. De fato, é inviável ficarmos sem energia elétrica e imagina se não tivéssemos todo esse arranjo ambiental?
De forma geral, a geração, a transmissão, a distribuição e a comercialização são as quatro etapas principais que ocorrem até a energia chegar ao ponto final e realmente ser consumida. Este artigo trabalha somente com a fase de geração da energia, abordando sua oferta interna e a matriz elétrica brasileira.
Com vistas a isso, reunimos os dados dos últimos cinco anos da publicação anual Resenha Energética Brasileira, confeccionada pela Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia. Ao final do material, foi realizada uma análise das emissões de dióxido de carbono (CO2) por fonte e setor.
Oferta Interna de energia
Em 2015, o Brasil ofertou internamente 299,212 milhões de tep. Analisando o recorte 2015-2019, este foi o ano com a maior quantidade de energia ofertada, veja a Figura 1. Os últimos cinco anos somam 1.463,453 Mtep em que 43,83% correspondem a fontes de energia renovável, um total de 641,460 Mtep disponibilizados.
Apesar do número ser inferior no comparativo com os outros 56,17% que representam as não renováveis, o país tem caminhado para diminuir tal oferta. De 2015 a 2019, o Brasil deixou de injetar 57,792 Mtep de energias não renováveis e adicionou 36,750 Mtep de fontes renováveis à sua matriz energética. Números impulsionados pelos derivados da cana de açúcar, biodiesel, biogás, casca de arroz, energias solar e eólica.
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¹ Tonelada equivalente de petróleo, unidade de medida para representar o calor liberado durante a queima de uma tonelada de petróleo cru.
² Milhões de toneladas equivalente de petróleo
Matriz elétrica brasileira
No ano passado, 64,9% da geração de energia elétrica foi de origem hidráulica, incluindo a importação do excedente que o Paraguai não consome da produção da Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional, veja a Figura 2.
O ano de 2019 registrou a maior geração elétrica do período, somando 651.286 GWh e 83% deste montante foi de fontes renováveis. Nesses últimos cinco anos, observa-se um avanço das energias eólica e solar, com a incorporação de 34.360 e 6.596 GWh respectivamente.
Apesar dos investimentos em outras fontes, o Brasil continua dependente dos seus rios e reservatórios. Sendo que a falta de precipitação (chuvas) impacta diretamente na regulação do mercado de energia. O período seco compreende os meses de maio a novembro, já o período úmido abrange a faixa de dezembro a abril. No período seco, a tarifa de energia fica mais cara devido à queda no volume dos reservatórios e o aumento do custo da produção de energia pelo acionamento das usinas termelétricas.
Emissões de CO2 por fonte e setor
Durante os últimos cinco anos, o Brasil emitiu 2.139,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono (tCO2). O ano de 2015 obteve o maior registro, com 463,1 milhões de tCO2 e a quantidade emitida foi diminuindo a cada ano.
Em 2019, por exemplo, foi emitido um total de 406,1 milhões de tCO2 e a razão entre o total de emissões e a oferta interna de energia (406,1tCO2/294,036tep) ficou em 1,38. Bem abaixo do resultado Mundial e da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), somando 2,32 e 2,19 respectivamente. O óleo possui a maior representatividade das emissões, tendo atingido em todos os anos mais de 60% de contribuição. No comparativo com os setores, transporte e indústria contabilizaram a cada ano mais de 70% do total emitido de tCO2, conforme a Figura 3.
Considerações
A análise dos últimos cinco anos demonstrou que o Brasil está buscando diversificar a sua matriz elétrica, utilizando novas fontes de energia, principalmente eólica, solar e derivados da cana de açúcar.
Entretanto, mais de 60% da energia elétrica produzida depende das hidrelétricas, os seus reservatórios são diretamente impactados pela falta de precipitação. O desmatamento é outro fator que afeta a geração hidráulica, pois contribui para o assoreamento dos rios, degradação dos corpos d’água e redução do serviço hidrológico providenciados pelas árvores.
Observou-se que a quantidade emitida de CO2 diminui ao longo do tempo e a relação do total de emissões sobre a oferta interna de energia está menor, no comparativo mundial e OCDE.
Referências
ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica. Resolução normativa nº 479, de 3 de abril de 2012. Altera a resolução normativa nº 414, de 9 de de setembro de 2010, que estabelece as Condições Gerais de Fornecimento de Energia Elétrica de forma atualizada e consolidada. Disponível em: <http://www2.aneel.gov.br/cedoc/ren2012479.pdf>, acessado em 08/12/2020.
MME – Ministério de Minas e Energia. Resenha Energética Brasileira. Disponível em: <http://www.mme.gov.br/web/guest/secretarias/planejamento-e-desenvolvimento-energetico/publicacoes/resenha-energetica-brasileira>, acessado em 08/12/2020.